domingo, 5 de julho de 2009

Artigo

APLICAÇÃO DE INDICADORES PARA ANÁLISE DE DESEMPENHO DO CENTRO CIRÚRGICO
Cristina Silva Sousa
Janete Akamine
(Artigo publicado na Revista de Adminsitração em Saúde-
RAS _ Vol. 10, No 41 – Out-Dez, 2008. Paginas 147-150)

Introdução

O centro cirúrgico por suas particularidades e características, constitui uma das unidades mais complexas do ambiente hospitalar, conseqüências dos equipamentos e da tecnologia disponível, da variação intrínseca nos seus principais processos, de uma complicação logística para o suporte de seu funcionamento e, principalmente, pelo risco de morte sempre presente1.
O centro cirúrgico resulta em processos além da realização de cirurgias, realizam-se exames diagnósticos (raios-X, analises clinicas, patologia), administram-se medicações, hemoderivados e recuperação anestésica.
Assim, percebe-se que o bom desempenho de um centro cirúrgico esta diretamente relacionada com a qualidade de seus próprios processos e com os processos dos serviços que o apóiam, como conseqüência de uma combinação entre instalações físicas, tecnologia e equipamentos adequados operados por mão de obra habilitada, treinada e competente1.
Com isso, para avaliar o desempenho desta complexa unidade, visando à gestão, busca de melhorias, desenvolvimento de novos processos, torna-se necessário desenvolver uma avaliação baseada em critérios previamente determinados que envolva qualidade, aplicação de indicadores e atuação da equipe multidisciplinar.
Kurcgant2 define a qualidade como um conjunto de atributos que incluem um nível de excelência profissional, o uso eficiente de recursos, um mínimo de risco do paciente, um alto grau de satisfação por parte dos usuários considerando-se essencialmente os valores iniciais existentes.
A busca pela qualidade assistencial vem sendo cada vez mais discutida e compartilhada entre os profissionais de saúde. Toda instituição, cuja missão essencial é assistir o ser humano, preocupa-se com a melhoria constante do atendimento, objetivando atingir uma relação harmônica entre as áreas: administrativa, tecnológica, econômica, assistencial, de ensino e de pesquisa2.
O programa de qualidade hospitalar (CQH) descreve a melhoria continua da qualidade assistencial como um processo dinâmico e exaustivo de identificação constante dos fatores intervencistas no processo de trabalho da equipe de enfermagem3.
Assim, o enfermeiro necessita conscientizar-se do seu papel de gestor da qualidade. Segundo Nepote4 para o enfermeiro é importante dar consistência a sua liderança, enriquece-la com estratégias e planos, analisar processos, criar indicadores de produção e produtividade.
O mundo caminha para uma nova realidade organizacional, que esta baseada em utilização do saber, criatividade e competitividade. É preciso mensurar os fatos, medir resultados e multiplicar o conhecimento e o aprendizado.
Perroca5 afirma, que um dos requisitos para o processo de acreditação hospitalar, especificamente para o centro cirúrgico é a utilização de sistema de informação baseada em taxas e indicadores para obtenção de informação estatística e monitoramento de resultados.
Como definir os indicadores, é uma das tarefas mais difíceis citadas pela enfermagem. O CQH conceitua indicador como uma unidade de medida de uma atividade com a qual se esta relacionada, ou ainda, uma medida quantitativa que pode ser empregada como um guia para monitorar e avaliar a assistência e as atividades de um serviço, já para Kurcgant2 a construção de indicadores de qualidade implica na explicitação de referenciais de apoio. E ainda para Perroca5 os indicadores alertam quando ocorre desvio de uma situação considerada normal ou esperada sinalizando para que o processo em questão possa ser revisado impedindo a instalação do problema.
A construção de indicadores é como uma expressão matemática, onde o numerador representa o total de eventos predefinidos e o denominador a população de risco selecionada, observando-se a confiabilidade, a validade, a objetividade, a sensibilidade, a especificidade e o valor preditivo dos dados2.
Para mensurar valores de assistência, gerência e produtividade devemos ter em mente o treinamento da equipe, pois uma condição importante para a construção de indicadores é a obtenção de dados e informações fidedignas, resultantes da anotação sistemática das ocorrências e dos eventos relativos ao funcionamento do centro cirúrgico. Tal situação somente será obtida a partir do convencimento dos médicos, dos enfermeiros, do pessoal de enfermagem e demais colaboradores que executam bem elaborados e das anotações precisas1.
Por isso é fundamental envolver a equipe de enfermagem na construção dos indicadores e mante-los atualizados sobre os resultados, o processo de melhoria e qualidade. O bom gerenciamento de uma unidade de centro cirúrgico constitui elemento fundamental para a tomada de decisão.
O processo de validar indicadores conduz o enfermeiro a encontrar respostas para questões gerenciais, assistenciais, econômicas e legais, mostrando os resultados do atendimento prestado e possibilitando a implementação de ações de melhoria, baseada em padrões de qualidade2.
Definidos qualidade e indicadores, cabe agora desenhar os instrumentos para avaliação de desempenho das atividades do centro cirúrgico.

Objetivos

Monitorar a produção e a produtividade do centro cirúrgico através da coleta sistemática de dados que forneçam indicadores quantitativos.
Obter e fornecer subsídios às lideranças setorial e administrativa da avaliação de processos executados e resultados obtidos, que conduzam a um plano eficaz de gestão.

Metodologia

Este é um estudo quantitativo, preditivo e analítico realizado através da aplicação de indicadores com coleta de dados no período de janeiro a junho de 2008, após conscientização da necessidade desses indicadores para avaliação dos processos e resultados do centro cirúrgico.
O centro cirúrgico avaliado é parte de um hospital privado de grande porte, localizado na cidade de São Paulo, composto de quinze salas cirúrgicas, com atendimento a todos os portes cirúrgicos e especialidades e realizando em média 1000 cirurgias por mês.
Os instrumentos utilizados foram o mapa cirúrgico, onde foi possível encontrar dados do movimento cirúrgico (cirurgias agendadas, realizadas e cancelamentos), taxa de mortalidade durante permanência no centro cirúrgico, número de reoperação. O livro de registro da recuperação anestésica onde foi possível mensurar o tempo de permanência na RA. Os dados gerenciais foram baseados na soma do banco de horas de todos os funcionários e o número de funcionários com vinculo na instituição superior a 18 meses. O instrumento de avaliação assistencial do centro cirúrgico, que foi denominado gerenciamento de risco onde avaliamos os pacientes quanto à queda e ocorrência de lesões de pele no intra-operatório, possibilitando mensurar a incidência de queda e de lesões de pele1, 3,4.
Estes dados são coletados e inseridos em planilha Microsoft Excel®, mensalmente pelas enfermeiras do centro cirúrgico, pois cada indicador é de responsabilidade de uma enfermeira da unidade. Para desenvolver o trabalho os dados foram analisados quanto à média no período proposto.


Resultados

Os indicadores de movimento cirúrgico demonstraram em média 969 cirurgias agendadas, 966 realizadas; 153 cancelamentos, sendo a maior causa de cancelamento a desistência do paciente. O tempo de atraso cirúrgico possui em média 55 minutos, sendo a maior causa atraso da equipe médica. A taxa de mortalidade durante a permanência no centro cirúrgico permanece em 0,3% e número de reoperação em 1,8. O tempo de permanência na RA é de 48 minutos. Dados já esperados pelas enfermeiras do centro cirúrgico, pois condizem com o que é vivenciado dia-a-dia. Os valores mensais estão distribuídos na tabela 1.
Os indicadores gerenciais apresentaram a média da soma do banco de horas de 308h e 63 colaboradores possuem mais de 18 meses na instituição. O alto índice de horas no banco de horas foi analisado e deve-se ao número inadequado de profissionais no quadro disposto ao setor, o que já está sendo regularizado. Foi gratificante o alto número de funcionários com vinculo superior a 18 meses na instituição, uma vez que dos 100 colaboradores do centro cirúrgico 63 abrangem o grupo do indicador, demonstrando a adesão do colaborador com a instituição. Os valores mensais podem ser vistos na tabela 2.
Os indicadores assistências tiveram como resultado uma incidência de queda é zero, uma conseqüência das providências tomadas na prevenção de queda, como as macas de transporte com grades elevadas durante toda a permanência do paciente no setor, colocação de cinto de segurança na mesa cirúrgica enquanto aguarda o preparo do cirurgião, controle da agitação psicomotora pós anestésica. A incidência de lesões de pele no intra-operatório pode ser mensurada pela criação do instrumento de gerenciamento de risco que nos permitiram avaliar cada paciente individualmente, favorecendo a conscientização da equipe de enfermagem quanto à importância do posicionamento cirúrgico e avaliação da incidência de lesões ocorridas no setor, buscando melhorias constantes na qualidade do atendimento prestado, e alertando a necessidade constante da prevenção de lesões de pele no intra-operatório. O valor médio de lesões de pele no intra-operatório é de 0,07. Os dados mensais são vistos na tabela 3.

Considerações Finais

Na enfermagem dos dias de hoje, gerência de unidade, consiste na previsão, provisão, manutenção, controle de recursos materiais e humanos para o funcionamento do serviço e a gerência do cuidado que consistem no diagnóstico, planejamento, execução e avaliação de assistência, passando pela delegação das atividades, supervisão e orientação da equipe. Assim, os enfermeiros compreendem que administrar é cuidar6.
Compreende-se que é extremamente importante que a enfermagem assistencial esteja em conjunto com a enfermagem gerencial, pois a qualidade do atendimento prestado depende da assistência direta, ou seja, o cuidado direto ao paciente e a assistência indireta, ou seja, qualidade nos processos internos. Sendo assim, cabe aos enfermeiros compreender o uso de indicadores, e aplicá-los continuamente, para que mantenham a qualidade do serviço prestado e desenvolvam novos processos.
Os números coletados que podem levar a busca de melhorias para assistência, gerência e produção e tornaram-se fundamentais na área da saúde. Porém as organizações de saúde e os hospitais mais do que quaisquer outras empresas são feitos de pessoas. Assim o fator diferencial entre as empresas do setor de saúde é o potencial humano que elas dispõem1.
Conclui-se que a avaliação de desempenho das atividades do centro cirúrgico mediante um conjunto estruturado de indicadores, abre caminho para a revisão critica nos principais processos e rotinas envolvidas na produção cirúrgica do hospital, possibilitando a intervenção nos processos falhos e desenvolvimento de melhorias, buscando sempre a qualidade do processo, além de apresentar de uma forma clara à área administrativa do hospital o trabalho complexo do centro cirúrgico.



Referências
1. Duarte, IV; Ferreira, DP. Uso de Indicadores na Gestão de um Centro Cirúrgico. [periódico na Internet]2006 abr-jun [acesso em 2007 outubro], 31 (8) [aproximadamente 8 páginas]. Disponível em: http://www.cqh.org.br/
2. Kurcgant, P, Tronchim, DMR, Melleiro, MM. A construção de indicadores de qualidade para avaliação de recursos humanos nos serviços de enfermagem: pressupostos teóricos. [periódico na Internet]2006 [acesso em 2007 novembro]; 19(1) [aproximadamente 4 páginas]. Disponível em: http://www.scielo.br/
3. Programa de Qualidade Hospitalar (CQH). Manual de Indicadores de Enfermagem NAGEH.São Paulo: APM/CREMESP.2006
4. Nepote, MHA. Análise de Desempenho das Atividades no Centro Cirúrgico através de indicadores quantitativos e qualitativos. [periódico na Internet] 2003 [acesso em 2007 setembro]21 (5) [aproximadamente 10 páginas]. Disponível em: http://www.cqh.org.br/
5. Perroca, MG, Jericó, MC, Facundim, SD. Monitorando o cancelamento de procedimentos cirúrgicos: indicador de desempenho organizacional. [periódico na Internet] 2007 [acesso em 2007 novembro]; 41(1) [aproximadamente 7 páginas]. Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp
6. Aguiar, ABA. Costa, RSB, Weirich, CF. Bezerra, ALQ. Gerência dos serviços de enfermagem: um estudo bibliográfico. [periódico na Internet] 2005 [acesso em 2007 outubro]; 7(3) [aproximadamente 9 páginas]. Disponível em http://www.fen.ufg.br/

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